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Pílulas do Viver

Nasci no ano de 1980, na cidade de Passo Fundo/RS, tendo vivido minha infância na cidade de David Canabarro, a 80 km de distância. Tenho uma irmã, dois anos mais nova. Morei durante toda minha infância e adolescência na companhia de minha mãe e de meu pai, que sempre me ofereceram todo o suporte que necessitava para me desenvolver bem. Estudei em escola pública estadual, até o último ano do ensino médio. Enquanto concluía o 3º ano, já buscava o preparo para o vestibular, visando o estudo superior. Assim, saía nas manhãs, bem cedo, antes de o sol aparecer, para viajar até Passo Fundo, onde frequentei o curso pré-vestibular. Antes de decidir por qual área escolher, tentei aprovação em universidades públicas para alguns cursos, não ligados à área jurídica, não tendo obtido aprovação. Então, despertou-me o interesse por prestar vestibular para o Curso de Direito, na cidade onde nasci, Passo Fundo, tendo sido aprovado e ingressado na Universidade em julho de 1998. Nessa mesma época conheci Susana, hoje minha esposa, que sempre, além, de meus pais, contribuiu decisivamente para a minha trajetória profissional e pessoal.

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Considerando o currículo de seis anos, na época, concluí o Curso de Direito em julho de 2004, custeado sempre por meus pais. Durante a faculdade, realizei estágios como advogado, no Poder Judiciário em Passo Fundo e, por fim, na Procuradoria Geral do Estado, também naquela cidade. Formado, dediquei-me à preparação para concursos, tendo frequentado a Escola Superior da Magistratura da AJURIS e, logo após, a pós-graduação, em nível de Especialização em Direito Público, na mesma instituição onde me formei, Universidade de Passo Fundo. Durante todo esse tempo, desde a graduação, a ideia do concurso público sempre me seduziu, de forma que era minha meta profissional. Após a realização de vários concursos, reprovação em alguns e aprovação em outros, exerci atividade de advogado e decidi pela carreira da Defensoria Pública, tendo tomado posse em julho de 2008. Fui designado para atuar junto à 1ª Vara do Júri da Comarca de Rio Grande, para lá sendo transferido, passando a morar provisoriamente em hotel, até o casamento em janeiro de 2009, quando minha, então esposa, mudou-se para lá, para nosso primeiro lar. Em julho do ano seguinte obtive a remoção para a Defensoria Pública de Guaporé, cidade mais próxima de nossas famílias e que nos conquistou, sendo que até hoje nela residimos, tendo a adotado como nossa cidade.

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Em Guaporé, no ano de 2013 nasceu nosso primeiro filho, Artur. Em 2018, nasceu nosso segundo filho, Lucas. Nessa época, dedicado ao trabalho e à família, sentia os primeiros sinais mais evidentes de uma condição genética, que, somente no ano de 2021 confirmou-se como sendo Distrofia Muscular. Desde a infância sentia algo diferente em mim, muitas vezes não conseguindo acompanhar os colegas nas atividades físicas, como corridas e futebol, sendo alvo, como não é de se estranhar, de piadas. Então, como referi, os sintomas mais evidentes começaram há aproximadamente 4 anos, com questões envolvendo coluna cervical, precisando de cirurgia, perdas de sensibilidade e dificuldade progressiva para caminhar e realizar atividades manuais. Nesse período, sempre busquei auxílio médico e de fisioterapeuta, que até hoje busco acompanhamento. Chegou o momento em que caminhar já era perigoso sem auxílio, sendo que, após inúmeros tombos, foi necessária a utilização de muletas para deambular. Aos poucos, os movimentos foram diminuindo, começando pelos membros inferiores, após os ombros e, mais recentemente, o quadril. Quanto a evolução da distrofia chegou aos quadris, embora tenha resistido por algum tempo, a cadeira de rodas começou a fazer parte da minha rotina. De início, utilizada para distâncias maiores, mas logo em seguida passou a fazer parte do meu dia a dia. Hoje sou, como popularmente se diz, "cadeirante". A experiência da cadeira de rodas também foi gradativa, sendo que aos poucos, conforme aceitava minha condição, busquei melhores equipamentos, sendo que hoje, é minha companheira inseparável com quem (cadeira de rodas), me dou muito bem, sendo um excelente auxílio em minha qualidade de vida e possibilitando meu deslocamento, que de outra forma não seria possível.

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Superada a fase da revolta e do luto por saber que tenho uma condição genética progressiva e degenerativa e que gera uma deficiência física, hoje assumo com orgulho minha condição de pessoa com deficiência, trabalhando em minha vida pessoal e profissional para divulgar o assunto e os direitos das pessoas que tenham alguma deficiência, buscando um mundo mais inclusivo e acessível.


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Dr. Ricardo Girardello é formado em Direito pela Universidade de Passo Fundo no ano de 2004. Pós-graduado em Direito Público. Defensor Público desde de o ano de 2008, Diretor da Defensoria Pública Regional de Guaporé. Integrou o NUDEC (Núcleo de Defesa Cível), como subdirigente, até o ano de 2016. Integrou a banca do IV Concurso para ingresso na carreira de Defensor Público, na disciplina de Processo Civil. Subdirigente do NUDEPED (Núcleo da Pessoa com Deficiência) da Defensoria Pública do RS e membro da CPAI (Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão) da Defensoria Pública.


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