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17 de maio, Dia Mundial de Luta contra a Homofobia


Neste 17 de maio, Dia Mundial de Luta contra a Homofobia, a ADB quer abordar e combater o preconceito sofrido pela comunidade LGBTQI+ e que também são pessoas com distrofia muscular.


O objetivo desta data é debater os mais variados tipos de preconceitos contra as diferentes orientações sexuais e identidades de gênero, além de gerar o desenvolvimento de uma conscientização civil sobre a importância da criminalização da homofobia.


No entanto, para as pessoas com distrofia muscular, que infelizmente também são alvos do preconceito por suas deficiências físicas, é necessário ser duplamente forte.


Diante do preconceito, ser gay e ter DM os cercam de falas carregadas de intolerância, falta de conhecimento e informação. É comum, inclusive, serem alvos do preconceito velado, aquele em que o indivíduo age de forma preconceituosa, mas nega ser preconceituoso com o próximo.


Assumir a cadeira de rodas, ou “sair do armário'', em ambos os casos, exige preparo, coragem e maturidade. Se libertar da necessidade de aceitação, dos padrões de beleza impostos pela sociedade e da rejeição dentro dos próprios grupos minoritários não é nada fácil, mas se calar perante ao retrocesso também não é uma opção.


Confira agora as entrevistas de Welton e Elton, pessoas com distrofia muscular e membros da comunidade LGTBQI+.



1 - Quais os preconceitos que você enfrenta no seu dia a dia?

Welton: Raramente senti o preconceito de forma explícita, mas é comum passar por situações desconfortáveis, com preconceito velado, tanto pela minha orientação sexual quanto pela minha condição física. Infelizmente é comum ser alvo de falas carregadas de intolerância, seja ao sair na rua, seja no mundo virtual. Indivíduos vestem-se com uma capa superficialmente respeitosa à minha pessoa, como gay e como pessoa com deficiência, mas que no fundo vai se revelando permeada de intolerância e falta de conhecimento a tudo o que me diferencia dela. Já fui chamado de “aleijado”. Já fui chamado de “viado”. Mas para ser sincero, nada me incomoda mais do que o preconceito velado. Já teve um tempo em que eu quis participar da igreja católica, de grupos de oração, por exemplo. Mas ao presenciar falas extremamente homofóbicas nas chamadas pregações, fiquei frustrado e me afastei. No mínimo não faria sentido eu fazer parte de um coletivo que condena o que essencialmente sou. Já ouvi de pessoas próximas que “tudo bem ser gay” mas que “ninguém é obrigado a presenciar demonstrações explícitas de carinho, como dois homens se beijando em público”. Então deixei de ter proximidade com essa pessoa. Já ouvi num salão de cabeleireiro de um profissional que eu respeitava, que o beijo lésbico entre as personagens das atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timberg na tv era “uma final de carreira triste para duas velhas sem-vergonha”. Então deixei de frequentar o salão. Essa é minha atitude: me afastar. Como pessoa com deficiência, o que mais enfrento são as chamadas falas capacitistas, que é o preconceito mascarado de elogio. São comentários que na verdade só nos inferiorizam. Já me chamaram, por exemplo de vencedor, de campeão, de guerreiro, ou do tipo “seu rosto é lindo”; “não sei como você aguenta o dia inteiro aí sentado”; “Tenho tanta pena de você”; “Tão bonito, pena que não anda”; “Que sorte você tem por fulano namorar com você”; “Você é uma inspiração”. Existem, ainda, os que acham que estamos na cadeira de rodas por falta de fé. Isso é um dos tipos de preconceito que mais me deixa desconfortável. Me abordam na rua e dizem: “Deus vai te fazer voltar a andar”; “Procure tal igreja que Deus vai te tirar dessa cadeira”; “Faça uma promessa”. Enfim, sei que algumas pessoas só têm a intenção de nos confortar, mas infelizmente só conseguem o contrário. Enfim, é preciso conhecimento e empatia para que todos se sintam compreendidos e verdadeiramente respeitados.


Elton: Sim, o CAPACITISMO por não ter um corpo "padrão".



2 - Você percebe que sofre mais preconceito por ser gay ou por ter Distrofia Muscular?

Welton: Ser gay e PCD é ser duplamente minoria e ter que ser duplamente forte, diante do preconceito. Assumir a cadeira de rodas para a sociedade foi tão complexo pra mim quanto “sair do armário” e exigiu preparo, coragem e maturidade. Acho que ambos os tipos de preconceito são difíceis de encarar, pois apesar de nos impactarem de diferentes formas, acabam fazendo com que nos sintamos menores internamente, inseguros. Porém, não sofro preconceito apenas dos indivíduos ditos “normais”, mas dentro dos próprios grupos minoritários que fazemos parte. É comum as pessoas com deficiência apresentarem dificuldades em acessar espaços de convivência LGBTQIA+, não apenas por serem comumente inacessíveis em sua arquitetura, como já vivenciei ao visitar uma boate voltada para esse público, como também pela supervalorização de corpos padronizados, que predominam no meio LGBTQIA+. Principalmente nesse meio, muitos veem as pessoas com deficiência de forma unilateral, nos rotulando apenas como portadores de um diagnóstico, nos categorizando como assexuados, vulneráveis, que não possuem desejos sexuais e afetivos, que não podem ser desejados. Assim, nos rejeitam. Existem também os chamados “devotees”. Tratam-se de fetichistas, que se atraem unicamente pela deficiência, enxergando pcd’s apenas como objeto sexual, o que também é uma forma de capacitismo. Por outro lado, em páginas e grupos de relacionamento voltadas para pessoas com deficiência também já presenciei muitas falas homofóbicas. Enfim, colocando na balança, acho que sofro mais preconceito como PCD do que como gay. Ser gay no nosso país hoje, com o atual governo, que insiste em diminuir nossas lutas, e negligenciar a necessidade de criação e concretização de políticas públicas específicas para a nossa proteção e pleno exercício da cidadania é algo cada dia mais difícil. Ter algum tipo de limitação física numa sociedade que não tem a preocupação de incluir a todos, independentemente das especificidades de cada um, e que exige cada vez mais emancipação, autonomia, independência e que ao mesmo tempo não oferece condições mínimas para que todos possam desenvolver ou exercer tais habilidades é algo que acaba nos segregando ainda mais, é algo ainda mais difícil.


Elton: "Meu maior desafio como homem gay com distrofia muscular. E a dificuldade de arrumar um namorado.O preconceito é muito grande, por você não se encaixar no corpo padrão que a sociedade exige. Às vezes bate aquela deprê , mas evito ficar pensando muito nisso. Por que o que for de ser, será."



3 - Ser uma pessoa com DM impactou em algumas escolhas da sua vida, como escolhas profissionais, por exemplo?

Welton: Totalmente. Apesar das limitações físicas serem apenas uma das muitas características que me compõem, isso acaba sendo o principal influenciador para o desenvolvimento de toda uma vida e realização de sonhos. Eu comecei a sentir os primeiros sintomas, que é a fraqueza muscular, com 13 anos. Talvez por negligência ou falta de conhecimento, só recebi o diagnóstico com 20 anos. Nesse meio tempo, que era crucial para escolhas sobretudo profissionais do adolescente e do jovem, eu me senti totalmente incapaz em me atirar pra vida. Terminado o ensino médio, quando muitos se preparavam para o ensino superior, eu estava viajando para outro estado, para fazer exames e consultas. Como crescer como profissional, se qualificar, quando você depende de terceiros para realizar até as tarefas cotidianas? Admiro muito a luta de quem consegue ser forte o suficiente para encarar uma rotina diária no mercado de trabalho e administrar as limitações frente às demais exigências de um trabalho e ou estudos. Consegui me graduar, ganhei bolsa, fiz especialização. Realizei trabalhos voluntários. Desempenho algumas atividades em casa, relacionadas com minha graduação. Mas hoje sou aposentado. Dessa forma, me mantenho próximo do ambiente familiar, que hoje é meu suporte.


Elton:Em algumas coisas sim, mas não me limito.


4 - O que você vê como maior problema hoje, considerando uma pessoa com DM?

Welton: Com toda certeza, além do preconceito, a falta de acessibilidade. É um caos sair nas ruas e se sentir incapaz, como se você não pertencesse ao mundo, como se não houvesse preocupação com suas necessidades. É como ir pra guerra e perder todos os dias. É como depender de algo que escapa de nossas mãos. Desde as calçadas despadronizadas, com degraus, quebradas ou inexistentes; ônibus rodoviários sem elevadores, sem assentos preferenciais, ou no caso dos coletivos municipais, com elevadores que emperram sem manutenção. Já perdi muitos compromissos, muitas sessões de fisioterapia e consultas, por exemplo, por falta de transporte público adequado. Já fiquei horas em pontos de ônibus no sol, esperando por algum ônibus com elevador que não estivesse quebrado. Também lojas, hotéis (apesar da acessibilidade ser lei nesses estabelecimentos) e repartições públicas sem rampas de acesso e sem preparo dos funcionários para o devido atendimento também é um problema comum. Até na faculdade, passei todo o curso tendo que enfrentar escadas, por falta de empenho dos responsáveis em adequar uma sala no térreo. É angustiante e afeta até nosso rendimento como aluno. É preciso que a criação e a efetivação das políticas públicas sejam priorizadas, pois depender apenas da empatia das pessoas é algo insuficiente.


Elton: A grande falta de lugares sem acessibilidade para as pessoas com deficiência.


5 - Qual o conselho que daria para alguém que "vive" a homofobia? A ideia é deixar um conselho para outras pessoas.

Welton: Primeiro, busque conhecer quem você é, aceite-se e respeite-se. Liberte-se da necessidade de se sentir aceito por todos, dos padrões socialmente estabelecidos, da heteronormatividade, da aprovação de terceiros para ser feliz. Você não é anormal, não é doente, não é uma aberração. Viva a sua verdade. Ame-se como o ser humano ímpar que você é, legitimando todas as suas especificidades. Não se sinta forçado a sufocar o que você é, para se adequar ao olhar do outro sobre você. Segundo: Estude. Se informe. Evolua. Transcenda. Se muna de conhecimento suficiente para também informar e se proteger. Combata o ódio e a falta de conhecimento com amor e informação, explicitando suas convicções de forma pacífica, de preferência com exemplos concretos de uma vida feliz, ignorando o que não lhe afeta, respeitando a todos. Terceiro: Ouça a todos. Ouça o que o outro tem a dizer, com paciência e empatia. Combata a falta de conhecimento, mas não tolere atitudes de desrespeito e violência, nunca, seja física ou verbal, com você ou com seus semelhantes. Denuncie. Infelizmente ainda existe um grande número de pessoas com dificuldade para lidar com a diversidade. Vivemos tempos de retrocesso, em que essas pessoas se sentem no direito de explicitar a sua aversão ao que diverge dos padrões socialmente estabelecidos, e de forma agressiva. Homofobia é um crime que precisa ser combatido.


Elton: Procure mais informações para falar mais sobre a patologia.


Quer conhecer mais o Welton, siga @intradiverso no Instagram.

Quer conhecer mais o Elton, siga @elton_cadeirante no Instagram.




#PratodoseTodasVerem Início da Descrição: Em um card amarelo e branco vemos, no canto superior direito, a foto de dois rapazes de cor branca, que estão de costas para a câmera e estão segurando, erguidas para o alto, bandeiras com as cores do arco-íris, que são o símbolo visual representativo da comunidade LGBTQI+. Abaixo da foto lemos 17/05 - Dia Internacional contra a Homofobia. Ao lado da foto lemos a frase: “É preciso mais conhecimento e empatia para que todos se sintam compreendidos e verdadeiramente respeitados.” Abaixo da foto vemos a foto de dois homens, brancos. Ambos estão em cadeiras de rodas. Seus nomes e dados seguem logo abaixo das fotos: Welton Pinotti Rovetta, Pessoa com DM tipo Cinturas e Elton Souza, Pessoa com DM de Duchenne. No canto inferior direito está o logo da ADB. Fim da descrição.



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